Pintura de Dimitra Milan
Nada sei sobre o
exigente dia a dia das formigas e das abelhas. Mas, se me procura para ouvir o
que aprendi sobre lobas e matilhas, ah, nesse
caso, devo convidá-lo para um chá. Você tem tempo? Que bom! Pois a primeira
coisa que precisa saber diz respeito a ele, o tempo.
Lobas não
se deixam oprimir pelo relógio do mundo. Como? Ora, porque aprenderam com as
que vieram muito antes delas a auscultar o compasso íntimo e secreto do seu
interior. Quando se rendem a ele, você não imagina quanta beleza. Elas bailam e
rodopiam nos campos selvagens da liberdade. São livres porque confiam em suas
intuições, em sua força vital, nos ciclos de vida-morte-vida impressos em cada
Ser sob o Sol. São mulheres que sabem.
Sabem esperar a hora certa das coisas
brotarem. Não precisam de respostas instantâneas. Mais importante é decifrar os
movimentos que a vida anseia realizar em seus corações. Por isso, atravessam
suas esperas uivando, cantando, pintando, bordando, rezando. Sabem que a
abundância se oculta no deserto. E que o crucial é não secar.
Não confundem
bondade com ingenuidade nem firmeza com rigidez. Seus valores mais caros são
seus guias. Seguem o faro do discernimento talhado à mão e jamais negociam com
o mal. Respeitam seus limites acima de tudo. Mas, fique tranquilo, não há por
que temê-las. Isso não. Lobas são calorosas.
Sabem acolher o outro com sua presença pura que observa sem julgar. E se
abraçam o outro com verdade é porque antes, muito antes, foram capazes de
abraçar si mesmas como a mãe que aconchega o filho amado.
Aprenderam que
habitar esse templo chamado corpo é um ato sagrado. Por isso, o amam como ele
é. Imperfeito e deslumbrante. Cheio de viço e vigor. Um corpo vivo, que aceita
o fluxo da existência e se permite fluir com ele. Ah, isso é muito
importante. Lobas agradecem sempre. Sabem que
cada respiro é um milagre.
A certa altura da jornada, elas também descobriram
que não há nada, absolutamente nada, que não possa ser perdoado. E que, ao
contrário de apequenar, o perdão liberta. Purifica. Amplifica a visão. Sem ele,
não há alegria - o néctar que fertiliza a vida. Apesar de tudo? Sim, garanto,
apesar de tudo.
Um dia elas compreendem que sua luz é muito mais forte do que
aquilo que as feriu e que certas descidas, frias e escuras, são absolutamente
necessárias. Das profundezas sombrias retornam mais completas. Donzela, mulher,
velha. Ciclo após ciclo vão embalando em seus corações o mais profundo amor.
Amor por si mesmas e por todas as criaturas. A fonte primordial da cura.
Por
tudo isso e muito mais, dou-lhe um conselho: Se encontrar uma loba pelo
caminho, dobre o pescoço em reverência. Elas são raras. E incríveis!
Raphaela de Campos Mello
jornalista e escritora
Confira seus talentos
as lindas crônicas: Farelos São Chão
Recebemos este texto maravilhoso da nossa querida Rapha ao final da jornada 2017.
Que possa inspirar a todas no Ano Novo!
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